O grande risco das transações online, para quem vende, são usuários falsos. A idwall promete solucionar esse problema

Marina Audi - 29 mar 2021
Os fundadores da idwall, Raphael Melo (à esq.) e Lincoln Ando.
Marina Audi - 29 mar 2021
COMPARTILHE

No ambiente de negócios online, as fraudes de identidade são mortíferas para o faturamento. 

Segundo a Fecomercio, infrações com documentos de identidade são responsáveis pelo prejuízo de 60 bilhões de reais anualmente no Brasil. E dados da Serasa Experian indicam que há uma tentativa de fraude a cada 16 segundos no país.

É nesse contexto que se insere a idwall, startup que automatiza a validação de identidade por meio de produtos digitais, permitindo a seus clientes conhecer exatamente quem é o consumidor na outra ponta e reduzindo assim os riscos de uma transação online.

À frente da startup estão Lincoln Ando e Raphael Melo, respectivamente CEO e COO. Em 2019, eles figuraram no ranking Forbes Under 30 de jovens inovadores. No ano anterior, Lincoln já despontara na lista Innovators Under 35 Latin America, organizada pelo MIT Technology Review. 

COMO A TECNOLOGIA AJUDA A VALIDAR A IDENTIDADE DOS USUÁRIOS

Lincoln cita outro ingrediente que emperra o comércio online no Brasil: o baixo Índice de Confiança Interpessoal do brasileiro, abaixo de 7%. 

Ou seja, os brasileiros não confiam em seus conterrâneos. Quando se correlaciona esse índice com o crescimento ou a diminuição do PIB, percebe-se uma conexão. 

“Acredito que isso acontece porque a falta de confiança gera burocracia. Pense no número de penduricalhos que são criados na nossa forma de conviver e de fazer negócios… Tudo isso porque você não sabe se aquela assinatura é verdadeira ou não

A lógica da idwall é: a partir do momento que se consegue ter confiança de que uma pessoa realmente é quem afirma ser e pode-se avaliar o nível de risco envolvido no negócio, as barreiras burocráticas caem drasticamente. 

As soluções da startup envolvem tecnologia OCR (reconhecimento de caracteres a partir de um arquivo de imagem), biometria facial com prova de vida e SDK Mobile (espécie de kit para o cliente implantar no seu aplicativo e melhorar a experiência do usuário). 

O objetivo dos produtos é facilitar o onboarding digital de clientes de acordo com as exigências da LGPD, sem deixar de lado a segurança no processo de cadastro. Segundo os sócios, as ferramentas permitem a verificação da identidade com 98% de acurácia.

AS FRAUDES ELETRÔNICAS SABOTARAM OS NEGÓCIOS ANTERIORES

Ex-colegas de Análise de Sistemas da Unicamp, Lincoln e Raphael também trabalharam juntos no Banco Original. Lá, dez anos atrás, sofriam com os desafios da validação de documentação para abertura de uma conta digital.  

Depois, ambos empreenderam, separadamente. Lincoln fundou a VaiVolta, um marketplace para locação de equipamentos de construção civil; Raphael criou a Joysticket, plataforma de fidelidade para games e apps. 

Em 2016, os dois negócios iam mal das pernas (e logo acabaram fechando as portas). Quando pararam para avaliar o motivo, os dois chegaram a um denominador comum: fraudes eletrônicas. Foi naquele ano que resolveram juntar forças e empreender a idwall. 

O mercado brasileiro, diz Lincoln, ainda era carente de soluções antifraude para cadastro. Para suprir essa lacuna, as empresas se viravam com seus recursos internos, combinando tecnologias ou montando estruturas de back office com foco em barrar tentativas de fraude.

A STARTUP VERIFICA 250 FONTES DE DADOS PARA ANALISAR RISCOS

O primeiro produto lançado pela idwall foi o Background Check – consulta de dados que serve para KYC (Know Your Customer, estratégia de coleta de dados sobre o consumidor), anti-money laundering e averiguação de riscos como, por exemplo, se a pessoa está com nome sujo na praça. 

Hoje, essa busca via idwall é feita em 250 fontes de dados, em tempo real (em 2016, eram apenas quatro). A pedido de um cliente, a equipe seguiu em desenvolvimento: construiu e adicionou inteligência em matrizes de decisão. 

Lincoln explica que buscar um processo em um tribunal de justiça não basta. É preciso entender no detalhe o significado daquela ação para permitir uma análise de risco mais apurada. 

“A forma como a gente busca fontes públicas e cria scores de risco baseados no entendimento daquela informação é um grande diferencial nosso”

Em dois meses, a idwall já conquistara clientes grandes como Vindi, Moip (que virou Wirecard), Avante e 99, entre outras. 

LOGO NA SEQUÊNCIA ELES CRIARAM MAIS DOIS PRODUTOS

Em 2017, a idwall lançou seu segundo produto, batizado de Extração de dados em documento com OCR.

A sacada que levou ao lançamento foi entender que para conseguir fazer análises mais aprofundadas das informações colhidas nas fontes era preciso cruzá-las com os dados dos documentos de identidade. 

Pedir que o usuário preenchesse um formulário extenso com 14 campos não funcionava: os erros eram muito frequentes. Assim, a saída foi desenvolver tecnologia para puxar esses dados de uma foto tirada do documento. 

O desafio seguinte foi entender que nos cadastros, muitos usuários utilizavam documentos inteiramente válidos, porém roubados. Daí surgiu, também em 2017, o Face Match

Esse terceiro produto é uma solução de biometria facial com prova de vida, que reduz o risco de fraudes por personificação através da comparação de uma selfie, tirada em tempo real, e a foto usada no documento.

OS SÓCIOS RESOLVERAM IGNORAR A CRÍTICA E AMPLIAR O PORTFÓLIO

Segundo os sócios, alguns investidores que cogitavam botar grana na idwall desistiram justamente por essa variedade de produtos, um indicativo de que os fundadores “estavam se distraindo”. 

Lincoln explica por que ele e Raphael resolveram ignorar algumas das diretrizes do conceito de lean startup (“startup enxuta”) e seguir em frente com a criação de um portfólio variado:

“Nunca seguimos o lean startup ‘by the book’ porque acreditávamos no foco no cliente e precisávamos desenvolver coisas pensando sempre em escalabilidade” 

Em 2018, a idwall colocou no mercado seu quarto produto, o SDK Mobile, que combina as tecnologias desenvolvidas pela startup (e então já disponíveis por APIs) num pacote para desenvolvedores. 

O SDK Mobile disponibiliza ferramentas de inteligência artificial e UX intuitiva aos apps dos clientes, para instruir o usuário a capturar corretamente a própria imagem e a de documentos via  smartphone.

EM 2020, A STARTUP VIU O FATURAMENTO CRESCER QUASE 600%

A forma de comercialização da idwall é o SaaS (ou, nas palavras de Lincoln, “onboarding e confiança como serviço”) 

A mensalidade parte de 2 mil reais. Dentro deste valor, o cliente escolhe qual dos produtos começa a usar e pode combiná-los da forma que lhe parecer melhor. 

“Às vezes, tem uma startup com um volume menor que já quer usar a nossa solução. Aí conversamos para entender e chegar no mínimo. Gostamos de ajudar o ecossistema a crescer mais rápido”

Em 2020, a startup viu seu faturamento explodir e crescer 588% em relação ao ano anterior, só de contratos de empresas do setor financeiro (tanto novos quanto antigos clientes). 

Até aqui, a idwall já levantou 51 milhões de reais em três rodadas de investimentos: 2 milhões de reais Seed, em 2017, 9 milhões numa Série A, em 2018, e outros 40 milhões de reais na Série B, em 2019. 

A IDWALL CRIOU UM APP PIONEIRO DE IDENTIDADE DIGITAL

Não é só a tecnologia que avança. O debate sobre o sistema de emissão de documentos também vem evoluindo. Hoje, esse processo é descentralizado: você, leitor ou leitora, pode tirar um RG diferente em cada estado do país.

A identidade digital já é realidade na Índia e na Estônia. Aqui no Brasil, a nova LGPD deve fomentar a discussão sobre o tema. 

No embalo dessa discussão, os sócios da idwall criaram o MeuID, que anunciam como o primeiro app de identidade digital do Brasil. Segundo Lincoln:

“Vimos que a gente podia ajudar as empresas a diminuírem burocracia e fraudes e ajudar as pessoas a protegerem sua privacidade e gerenciar seus dados de uma forma mais efetiva”

Junto a esse aplicativo, eles vislumbraram a montagem de um marketplace com uma rede de empresas para se plugar e beneficiar dele. 

Por enquanto, essa rede inclui cinco empresas: ClickCash (de empréstimo online e crédito pessoal), Guiabolso (gestão e produtos financeiros), uConecte (app de crédito consignado), BandTec Digital School (faculdade de tecnologia) e Nexoos (de empréstimo para PMEs).

O aplicativo faz a validação automática dos clientes de cada uma dessas empresas (que pagam uma taxa por usuário), dispensando a necessidade de cadastro na hora em que o consumidor deseja acessar os serviços. 

A IDEIA É APRIMORAR O APP E TESTAR MODELOS DE COMERCIALIZAÇÃO

O MeuID soma 500 mil downloads desde 2019, quando foi lançado na Apple Store e na PlayStore, gratuitamente.

Lincoln considera que o aplicativo ainda está em fase beta. A ideia é formar grupos focais de usuários para melhorar a usabilidade e as funcionalidades novas a serem criadas.

Os sócios contam que algumas pessoas já usam o MeuID de forma offline, mostrando a tela do celular em portarias de edifícios que conseguem ler o QR Code de identificação e guardar os dados criptografados.

Segundo eles, a Nexoos vem usando o app para garantir direitos previstos na LGPD: o escaneamento do QR Code do MeuID verifica a identidade dos usuários que requisitam relatórios sobre como seus dados são utilizados.

Para Lincoln, a desburocratização trazida pela identidade digital garante maior acesso a serviços sem que isso signifique uma perda de privacidade:

“Muita gente tem a noção de que privacidade é esconder os próprios dados. Não é! Privacidade é consentir com onde, por quanto tempo e para qual propósito seus dados estão sendo compartilhados.”

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: idwall
  • O que faz: Fornece soluções automatizadas de validação de identidade e onboarding digital
  • Sócio(s): Lincoln Ando e Raphael Melo
  • Funcionários: 133
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2016
  • Investimento inicial: R$ 2 milhões (rodada seed)
  • Faturamento: NI
  • Contato: [email protected]
COMPARTILHE

Confira Também: